domingo, 9 de julho de 2017

SGP Especial: A História da EVO (Parte 1 - 1996 a 2001)



Muitos sabem que a Evolution Championship Series (ou EVO) tornou-se o maior evento dedicado aos jogos de luta no formato de torneio aberto, onde qualquer jogador de qualquer parte do mundo pode se inscrever e disputar o enorme prêmio em dinheiro e a glória na exigente comunidade dos fighting games. Só que nem sempre foi assim.

Esse ângulo perdurou muito nas filmagens de torneios dos anos 90 e 2000...
Preparado para o Round 1? Sejam bem-vindos ao início da história da EVO!

SPOILER ALERT: Muitos vídeos com as malditas câmeras laterais e scanlines subindo na tela!

01) O Contexto do nascimento da EVO: 1996 a 2001

Os idealizadores da competição que hoje conhecemos como EVO: os irmãos Cannon,
Antes da EVO que conhecemos, os irmãos Tom e Tonny, os gêmeos Cannon, encabeçaram a competição de nome Battle by the Bay (o B3) no mês de julho do ano de 1996, na área da baía de São Francisco, em Sunnyvale, Califórnia (EUA). Todas as partidas aconteciam nos melhores sistemas para se jogar fighting games: os arcades. Tanto por motivos de joystick e hardware, quanto pela quantidade de jogos oferecidos a este padrão de entretenimento, os gabinetes de fliperama eram o ringue mais adequado para a nossa paixão.

37 lutadores (5 secretos ali) faziam parte do Hall da Fama de MKTrilogy.
Esta era uma época impressionante para o gênero, com a SNK predominando nos arcades japoneses em jogos como Art of Fighting 3, Real Bout Fatal Fury, The King of Fighters '96, Samurai Shodown IV e Kizuna Encounter. A Midway acabava de lançar a reunião definitiva de seus títulos sanguinários anteriores com o gigantesco Mortal Kombat Trilogy para PlayStation. A Tecmo surgia no gênero com Dead or Alive, a SEGA chegava ao terceiro episódio de Virtua Fighter e a Rare trazia Killer Instinct Gold para o recém-lançado Nintendo 64. São mais de 20 anos... e que tempos! Porém, qual empresa de jogos de luta é a mais queridinha para o público norte-americano? A Capcom!

A Capcom investiu pesado em jogos com gráficos 3D neste ano de 1996.
A empresa dispunha de Street Fighter II reinando nos fliperamas ao redor do mundo; Street Fighter EX, Star Gladiator e Warzard eram suas mais novas franquias de porrada; presenciávamos o nascimento do crossover X-Men vs. Street Fighter; e ainda tínhamos a turma de Ryu no majestoso Street Fighter Alpha 2. Só que a ideia de uma comunidade de fãs de jogos de luta ainda não havia sido formada como vemos hoje e o torneio B3 reuniu apenas 40 participantes em sua primeira edição. Apesar disso, era um alto número para a época e por conta dessa iniciativa, tivemos o nascimento do maior evento competitivo do nosso gênero favorito. 

Como prática dos anos 90, muitas competições era filmadas e depois fitas VHS dessas gravações eram vendidas ou disponibilizadas entre os jogadores da futura comunidade a fim de disseminar a nova prática de se assistir partidas de jogos de luta:



O evento foi divulgado via internet e por contar com presença de jogadores do Canadá e até do Kuwait, pode ser considerado a primeira competição a nível internacional. E por que mencionei sobre a preferência dos norte-americanos pela Capcom? Porque diante de mais de uma dezena de jogos de qualidade, somente os dois mais famosos SF da época fizeram parte do B3: Super Street Fighter II Turbo e Street Fighter Alpha 2, cujo torneio é mostrado no vídeo acima. Isso explica porque os americanos são tão bons na série de Ryu e Ken. Os resultados finais: Alex Valle (sob a alcunha de CaliPower e campeão de SFA2, além do 4º lugar em SFII), Graham Wolfe (vencedor de SFII), Jason Nelson (ou "xrolento", vice de SFII) e John Choi (vice de SFA2) saíram-se como jogadores destaques do B3. E então tivemos um hiato de 4 anos...

Esta rivalidade entre Choi e Valle durou por mais de uma década em SSFIIT:



Entretanto, é claro que nesse tempo a comunidade se fortaleceu e em 1998 tivemos esta pérola do campeonato mundial de SFA3: Alex Valle vs. Daigo Umehara. Este foi o prenúncio da rivalidade que o jogo da Capcom estabeleceria entre americanos e japoneses, um legado que a EVO trouxe para a história dos fighting games.



A continuação do B3 acontece apenas no ano de 2000 e a partir de então, o evento promovido pelos irmãos Cannon em futura parceria com Seth Killian e Joey "MrWizard" Cuellar passou a se chamar B4 Championships. Mesmo assim, ele apresentou apenas jogos de luta da Capcom: SSFII Turbo, SFA2 e as três novidades com SFA3, SFIII: 3rd Strike e Marvel vs. Capcom 2. Muitos jogadores das primeiras posições do B3 reapareceram aqui com predominância ainda maior de Alex Valle (campeão de SFA2 e 3S) e John Choi (vencedor de SFA3), além dos campeões Duc Do (MVC2) e Mike Watson (SSFIIT) como os master players de Street Fighter do ano 2000.

O B4 ocorreu em julho de 2000, mês que tornou-se tradição para a EVO:



O fim da infância do que hoje vemos como a EVO aconteceu no ano seguinte: a B5 Championships contou com menos jogos em sua line-up, caindo de 5 para 4: saem SFIII 3rd Strike e SFA2 para a entrada de Capcom vs. SNK. O mais interessante é o grande número de jogadores japoneses entre os melhores colocados das quatro competições. Em SFA3, Ryo Hoshida, mais conhecido como BAS, levou o campeonato, seguido por Tomo Taguchi (Chikyuu) e outros nomes interessantes são evidenciados: os já conhecidos John Choi, Mike Watson e Alex Valle, além do surgimento de Ricki Ortiz (com o nick de "Hel-o Kit-e").



No crossover entre a dona de The King of Fighters e a Capcom, o CVS1, Taguchi (vice do SFA3) levou a taça ao vencer "xrolento". Depois houve a hegemonia de norte-americanos no Top 8 do campeonato de SSFII Turbo com a vitória de Jason Cole ("AfroCole"). E por fim, o nascimento de três figurões em MVC2: Peter Rosas, o "Combofiend", em oitavo lugar; Jay Snider, o "Viscant" e o primeiro título da lenda Justin Wong ao vencer o campeão do ano anterior, Duc Do. A Tempestade de Wong fazia aqui sua primeira grande aparição no cenário dos fighting games.




Finalmente em 2002, o torneio passa a se chamar EVO figurando assim a sua primeira edição. Mas para efeito de títulos e história, as três primeiras edições (B3, B4 e B5) contam como edições da iniciativa dos irmãos Tim e Tony. E surpreendentemente, a EVO 2002 apresentou apenas três jogos, novamente da Capcom: Super Street Fighter II Turbo, Marvel vs. Capcom 2 e o novíssimo Capcom vs. SNK 2. Esses três jogos acabaram por se tornar as velas que mantiveram acesa as chamas da comunidade norte-americana e japonesa de fãs dos FG por quase uma década, diferente de nós do Brasil, América Latina e China que corríamos atrás dos KOF de bar, sem negar também nosso amor pelos jogos da criadora de Akuma.

Quantos fãs de jogos de luta ainda não aguardam por uma continuação como essa?
É difícil pensar que um torneio como a EVO colocasse em sua line-up apenas três jogos, mas devemos levar em conta que a produção e o valor das máquinas de fliperama não eram mais tão acessíveis quanto nos anos 90, tanto pela queda de popularidade, quanto pela consequente produção limitada de jogos do gênero. Com menos fãs desse estilo de vida e menos lucro para as empresas, os anos 2000 quase viram o desaparecimento dos jogos de luta, ainda que as séries The King of Fighters, Mortal Kombat, SoulCalibur e Tekken nunca tenham deixado de se manter na ativa. Mas agora o foco era outro: os consoles. E se o gênero mudou, a comunidade também mudaria.

SoulCalibur II não chegou a EVO 2002 por um motivo: fez mais sucesso com as versões consoles em 2003.
Amanhã é a vez de adentrar a história da EVO na década dos anos 2000, onde apenas uma palavra define exatamente qual público acompanhou os fighting games: nicho. E descobriremos o porquê dessa saída do palco principal da história dos videogames.

(Clique aqui para ler a Parte 2)

Fui!

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Leitura obrigatória:

SGP Especial: A História da EVO (Parte 1 - 1996 a 2001)

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